01/02/2021 23h20 – Atualizado em 01/02/2021 23h20
Polo de pesca, Corumbá adota pesque-solte e abre temporada com alta procura por pacotes
Por Infocoweb
Em 2018, pesca amadora retirou 105 toneladas de pescado em Corumbá: em 2019, com o “pesque e não leve”, caiu para 63 toneladas, segundo a PMA
Um dos destinos de pesca esportiva de Mato Grosso do Sul a apoiar integralmente as medidas do Governo do Estado de reduzir a cota de pescado nos rios do Pantanal, Corumbá trabalha de forma diferenciada em relação às demais regiões turísticas ao adotar o pesque-solte durante toda a temporada. Mais de 80% dos 30 barcos-hotéis operam com captura zero e tem a adesão quase unânimes dos pescadores esportivos do Estado e de outras localidades.
Com a nova tendência, a temporada de pesca nos rios pantaneiros, dentro do município, ganhou mais um mês e fevereiro, em plena piracema, se tornou uma opção que veio a agregar ao mercado e atender a demanda. A Acert (Associação das Empresas de Turismo de Corumbá) estima que 30% dos barcos-hotéis abriram a temporada de 2021, cumprindo todas as normas de biossegurança adotadas durante a pandemia do coronavírus.
Primeiro polo de pesca a também decretar a moratória do dourado por cinco anos, medida posteriormente decretada pelo Governo do Estado com a Lei nº 5.311, sancionada em 11 de janeiro de 2019 pelo governador Reinaldo Azambuja, Corumbá saiu na frente no desenvolvimento sustentável da pesca e acompanhando a tendência mundial. Países como Argentina e Paraguai já proíbem o transporte do pescado e atraem milhares de pescadores.
“Tomamos a iniciativa de lançar essa proposta de pesque-solte, assumindo a responsabilidade e os possíveis riscos, e podemos dizer que a resposta de adesão dos nossos clientes foi de quase 100%”, afirma a empresária Joice Santana, que opera com três barcos-hotéis. “Hoje não parte mais dos empresários, são os pescadores que não querem mais levar o peixe, estamos em outro nível. O ideal seria a cota zero”, diz Raquel Amaral, do barco-hotel Indiaporã.
Meta: captura zero
A legislação pesqueira em vigor no Estado – Decreto nº 15.375, de 28 de fevereiro de 2020 – reduziu de cinco quilos e mais um exemplar de qualquer tamanho para apenas um exemplar de espécies nativas (respeitando os tamanhos mínimos e máximos) a cota de pescado para o turista, que tem ainda a opção de capturar e transportar cinco piranhas. O decreto manteve a cota do pescador profissional e garantiu fonte de renda às comunidades ribeirinhas.
“Entendemos a necessidade de ajustar o Decreto anterior (nº 15.166), que assinamos em fevereiro de 2019 estabelecendo a cota zero, para atender os pescadores residentes em Mato Grosso do Sul, tanto os que pescam em barrancos, quanto os embarcados, sem deixar de lado a preocupação com o meio ambiente, sobretudo a recuperação do estoque pesqueiro em nossos rios”, observa o governador Reinaldo Azambuja.
Apoiando a medida do governo, os operadores corumbaenses mantiveram a posição de fomentar a prática do “pesque e não leve” com base em pesquisas realizadas com seus clientes. “O pescador não quer mais matar o peixe, a não ser aquele que ele come na barranca do rio ou no barco”, relata o empresário Luiz Martins, do barco-hotel Kalypso e presidente da Acert. “Não há mais lugar para o peixeiro, aquele que pescava o suficiente para pagar sua viagem. Nossa meta é a captura zero e estamos conseguindo criar essa consciência.”
Fazendo a diferença
Segundo Joice Santana, os operadores de pesca esportiva tiveram que se adaptar ao pesque-solte com treinamento das tripulações, desde o processo de reeducação aos cursos de manuseio do peixe entre a captura e o cuidado na sua devolução à natureza. “Passamos a receber um novo turista e foi preciso se reposicionar no mercado, buscando atender um cliente mais consciente e que há muito nos cobrava medidas mais restritivas”, fala.
Segundo a empresária, ainda não é possível mensurar os efeitos positivos da iniciativa, considerando o ano atípico de 2020, com queda no movimento de turistas devido à pandemia do novo coronavírus. Mas ela faz uma conta: somente os três barcos-hotéis (42 grupos de 20 pessoas cada, em média) de sua empresa deixaram de capturar 16 toneladas de pescado por temporada, considerando a cota de 10 quilos e um exemplar de qualquer tamanho, que vigoraram até 2019.
“Imagina o volume de peixe devolvido por todos os barcos que aderiram ao pesque-solte?” Estamos fazendo a diferença, ajudando o Pantanal a se recuperar e aumentando a satisfação dos clientes”, sustenta ela. O empresário Luiz Martins lembra que desde a década de 1980 o trade turístico de Corumbá defende a redução da cota de pescado, que era de 50 quilos na época, e liderou o movimento que culminou com a criação da lei da piracema.
Texto: Sílvio de Andrade
Fotos: Edemir Rodrigues