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segunda-feira, 25 de novembro de 2024

Poucos e fieis, amigos lembram de Francelmo, “último herói do Brasil”

13/11/2019 08h34 – Atualizado em 13/11/2019 08h34

Poucos e fieis, amigos lembram de Francelmo, “último herói do Brasil”

“Não vai aparecer uma pessoa assim igual a ele. Não chegaríamos a dar a vida por tudo isso”, lamentou amigo do ativista

Por Izabela Sanchez

No cruzamento da Barão do Rio Branco com a 14 de Julho, em Campo Grande, há 14 anos, Francisco Anselmo de Barros, aos 65 anos, ficou em chamas para que o mundo entendesse que ameaçar o Pantanal é ameaçar a vida. Francelmo, que tirou a própria vida contra a instalação de usinas nesse bioma tão complexo, virou ele mesmo o Pantanal, que anos depois, está, também, em chamas.

Neste dia 12 de novembro, Dia do Pantanal (criado por uma resolução do Conama em 2008), poucos, mas fieis, amigos e ativistas lembram de Francelmo e da ameaça que agora voltou sob a forma de decreto do presidente Jair Bolsonaro que permite a instalação da cana-de-açúcar, usinas e destilarias na BAP (Bacia do Alto Paraguai).

Para os poucos mais de 10 amigos que foram até o simbólico cruzamento na região central nesta terça-feira, “o último herói do Brasil”, nas palavras do poeta Manoel de Barros, indica que a luta é incansável. A ameaça sempre chega, volta e meia, pedindo “cordão de resistência” pelo Pantanal.

“Não vai aparecer uma pessoa assim igual a ele. Não chegaríamos a dar a vida por tudo isso”. É o que avaliou um companheiro “de 20 anos” de Francelmo. O engenheiro Jorge Gonda, 71, é o guardião das cartas com alertas para toda a sociedade, deixadas por Francelmo. Entre os pedidos para que cuidem de um Pantanal que ele não mais veria, pediu para que cuidassem de sua família.

“Éramos companheiros, ele que me levou para a defesa do meio ambiente, quando o conheci em 1982. Nessa luta, achei importante mesmo sendo da parte produtiva, porque é fundamental. Até 2005 batalhamos juntos”, contou.

“Compadre, você me ajude”, teria pedido Francelmo ao amigo.

Gonda pensa que as usinas só não chegaram antes à região em razão do fogo que consumiu Francelmo. “Acho até ele dava mais valor para o meio ambiente do que para a família. Ele nasceu com essa missão”.

“É muito triste por um decreto mudar tudo. Não teve estudo. Eu digo sempre assim: qualquer atividade na BAP [Bacia do Alto Paraguai] é severa. O Brasil inteiro presenciou episódios em Minas Gerais. Qualquer acidente pode acabar com esse ecossistema”, disse.

Amigos exibem faixa contra a instalação das usinas de cana no Pantanal (Foto: Izabela Sanchez)

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