16/10/2017 06h34 – Atualizado em 16/10/2017 06h34
Já era
Por Marina Amaral
A revelação de que o impeachment da ex-presidente Dilma foi comprado por Eduardo Cunha veio na mesma semana em que o STF fez malabarismo para ceder ao Senado o direito de se sobrepor às decisões da Justiça. Aécio Neves, afastado do Senado pela 1a turma do STF depois de flagrado pedindo 2 milhões de reais a Joesley Batista, agora será julgado por seus pares – uma decisão tomada pelo plenário do mesmo STF.
Sobre o impeachment de Dilma, disse o delator Lúcio Funaro: “Ele [Cunha] me pergunta se eu tinha disponibilidade de dinheiro, que ele pudesse ter algum recurso disponível para comprar algum voto ali favorável ao impeachment de Dilma. E eu falei que ele podia contar com até R$ 1 milhão e que eu liquidaria isso para ele em duas semanas no máximo”, relata em vídeo gravado pela PGR.
Acho que todos nós recordamos do espetáculo lamentável da votação, transmitida pela TV, do dia 17 de abril de 2016. Boa parte dos deputados que votaram pelo afastamento da presidente eleita disseram fazê-lo em nome de Deus e da família; nesse segundo ponto, podem não ter mentido tanto assim.
Agora os senadores discutem se realizam votação secreta para afastar ou não da Casa o adversário de Dilma no pleito de 2014 – que questionou sua vitória desde o dia que ela foi eleita. Uma maneira, acreditam, de salvar Aécio sem se comprometerem publicamente.
Afinal, seria apenas mais um atentado contra a nossa combalida democracia.
E não o mais grave, infelizmente. Também na semana passada, os senadores aprovaram em caráter definitivo a permissão para que militares das Forças Armadas que cometerem crimes dolosos contra civis sejam julgados pela Justiça Militar. Caso o projeto seja sancionado pelo presidente Temer – que segundo o mesmo Funaro recebia parte das propinas do esquema de Cunha –, os moradores das comunidades do Rio, ocupadas pelo Exército, serão os primeiros a sofrer seus efeitos na pele.
Safam-se os militares, os políticos, os juízes. Os que não querem a democracia não precisam nem mais pedir a volta da ditadura militar.