25/09/2017 08h00 – Atualizado em 25/09/2017 08h00
Produtores Rurais de Nova Alvorada do Sul e Maracaju sofrem com o crescente ataques da mosca-de-estábulos devido ao crescimento da produção de cana-de-açúcar
Nos períodos de julho a dezembro e com as fortes chuvas e intenso calor, a mosca-de-estábulos se prolifera devido à crescente produção de vinhaça provinda das usinas sucroalcooleiras em nosso estado e está causando sérios danos aos produtores.
Por Leandro Medina
Produtores rurais dos municípios de Maracaju e Nova Alvorada do Sul relataram a forma assustadora na qual as moscas estão aumentando, tornando um surto nos últimos meses.
A mosca-dos-estábulos (Stomoxys calcitrans) é comum em todo o país e se alimenta de sangue de vários animais, principalmente equinos e bovinos, além de animais silvestres e, eventualmente, o homem. Embora parasite outros animais de criação, os bovinos são os mais afetados, com perdas de 10% a 30% no ganho de peso e até 50% de redução na produção leiteira. Estima-se que os prejuízos causados por esta mosca no Brasil podem atingir 350 milhões de dólares anualmente.
Embora as infestações sejam mais comuns em gado de leite, devido ao desenvolvimento das larvas da mosca em resíduos de alimentos e dejetos animais acumulados nas propriedades, explosões populacionais (surtos) da mosca-dos-estábulos têm sido cada vez mais frequentes também em gado de corte. Na última década, surtos da mosca-dos-estábulos têm causado sérios prejuízos a pecuaristas nas proximidades de usinas sucroalcooleiras em pelo menos cinco estados brasileiros. Nos últimos três anos, mais de 15 surtos foram registrados em sete municípios de Mato Grosso do Sul, além de surtos registrados também em São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás.
As usinas são frequentemente apontadas pelos produtores afetados como a causa dos surtos, razão pela qual também se juntaram aos pecuaristas no combate a essa praga. Além dos prejuízos econômicos, a ocorrência de surtos frequentemente leva um grave conflito entre os setores envolvidos. Entretanto, apesar dos anseios da sociedade, não existe solução para o problema no curto prazo. Embora comprovada à relação entre fazendas de gado e usinas alcooleiras na dinâmica dos surtos, vários aspectos importantes sobre sua epidemiologia são ainda pouco conhecidos e precisam ser investigados.
No Brasil, a produção de cana-de-açúcar está em expansão acelerada em função do grande incentivo à produção de álcool combustível. O número de usinas e áreas de cultivo canavieiro cresce sistematicamente, implicando em maior quantidade de subprodutos orgânicos gerados. Desde 2008, a ocorrência de surtos tem sido registrada com frequência, particularmente pela mídia.
“Produtores rurais dos municípios de Maracaju e Nova Alvorada do Sul relataram a forma assustadora na qual as moscas estão aumentando, tornando um surto nos últimos meses”
Outros Casos
Já no município de Costa Rica, recentemente foi realizado uma reunião, convocada por uma comissão criada no município especialmente para discutir alternativas para o controle do inseto e que reuniu representantes da prefeitura, da Câmara de Vereadores, dos produtores rurais, do Ministério Público Estadual e da usina sucroenergética instalada no município, entre outros, o pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o médico veterinário Antônio Thadeu Medeiros de Barros inicialmente fez uma apresentação do que é o inseto e dos estragos que ele pode causar.
Barros disse que a mosca-dos-estábulos é um inseto hematófago, ou seja, que se alimenta do sangue de outros animais e que é encontrada em todo o continente americano. Para se reproduzir precisa de um local que tenha matéria vegetal em decomposição e possui um ciclo biológico de três a quatro semanas, entre a postagem dos ovos até se tornar adulta e uma vez adulta tem um período de vida de até um mês.
Cada mosca, conforme o pesquisador pode botar pelo menos 500 ovos ou mais e pode voar até 20 quilômetros. Costuma atacar vários tipos de animais, como bovinos, equinos, aves e cães, entre outros, e até o ser humano para se alimentar. É encontrada em maior quantidade próxima aos locais de reprodução e quando não está picando os animais fica em árvores, troncos ou qualquer lugar que ofereça abrigo ao calor, como postes, cercas e cochos.
Nos ataques a bovinos, podem provocar, de acordo com Barros, prejuízos de até 20% para os animais de corte e de 20% a 50% para os de leite. Esse prejuízo, explica ele, ocorre principalmente porque, incomodados com as picadas do inseto, os bovinos começam a se deslocar pela pastagem, deixando de se alimentar. Nas situações de infestações mais severas da mosca-dos-estábulos, ele explica que o animal para se proteger, fica agrupado, o que acaba oferecendo risco dos mais jovens (bezerros), serem pisoteados. Na África, de acordo com o médico veterinário, insetos da mesma família chegam a provocar a morte de leões.
Outro pesquisador da Embrapa Gado de Corte, o também médico veterinário, Paulo Henrique Duarte Cançado, ressaltou que o combate aos focos de criação da mosca-dos-estábulos representa 90% do sucesso no controle a infestação, que o trabalho tem que ser direcionado às larvas e a prevenção e alertou que uma vez instalados os surtos de ataque, eles são incontroláveis.
Cançado também destacou que somente com a parceria de todos os envolvidos no problema, no caso produtores rurais e as usinas sucroenergéticas, é que a praga será controlada. “Ações unilaterais são menos eficientes. É necessário diálogo, comprometimento e ações integradas”, afirmou.
Fazendas onde concentram maior índice de mosca com relação aos últimos três anos.
Maracaju
Fazenda Estância Paraíso: Marco Paulo Teixeira Marcondes – Faz Caa Porã: Pedro Ricardo Teixeira Marcondes – Faz Tapê Cue: José Antônio Teixeira Marcondes – Faz Cabeceira: Ake Bernard van der Vinne – Faz Retiro da Serra: Ricardo Fuchs – Faz Restinga da Serra: Moacir Marin Faz Norte: João Nogueira de Souza – Faz Santa Luzia: Andreya Nogueira de Souza – Faz Restinga: Anuncides Corrêa – Faz São Vicente: Rovilson Corrêa – Faz Bandeira: Luís Carlos de Castro – Faz Paraíso das 3 Barras: Robson Rosa Montezano – Faz Cachoeira: Ademir Straglioto – Faz São Sebastião: Jaques Alves – Faz Guara: Lorenço Tenório Cavalcante – Além de diversas Chácaras ao redor de Vista Alegre
Nova Alvorada do Sul
Fazenda Nova União, – Faz Velha Recordação – Faz Santa Rita – Faz Araçari – Faz Poção – Nascente da São Roque – Fazenda Racharia
JUSTIÇA
Em Caarapó, o MPMS pediu a condenação de empresas por danos ambientais.
De acordo com o Inquérito Civil nº 03/2013, as empresas Nova América Agrícola Caarapó Ltda. e Raízen Caarapó S/A Açúcar e Álcool são responsáveis pelo funcionamento da Usina de cana-de-açúcar localizada na Rodovia MS 156, Km 12, zona rural, a qual está gerando impactos ambientais negativos, pois, as atividades do empreendimento trouxeram o início do surto da mosca-dos-estábulos (stomoxys calcitrans), prejudicando o equilíbrio do meio ambiente e trazendo prejuízos econômicos aos produtores rurais do Município.
Na Usina de cana-de-açúcar, em Caarapó, a responsável pela plantação e entrega na Raízen é a Nova América Agrícola. A Raízen devolve a vinhaça (resíduo pastoso e malcheiroso que resta após a destilação fracionada do caldo de cana-de-açúcar fermentado, para a obtenção do etanol) para a Nova América. Neste ciclo, quem realiza e encaminha o Plano de Vinhaça ao órgão ambiental estadual é a Raízen que, após sua aprovação, é executado pela Nova América.
Em razão disso, para constatar que o surto da mosca-dos-estábulos tinha origem nas atividades realizadas nas duas empresas, foi feita perícia técnica pelo DAEX (Departamento de Apoio Especial às Atividades de Execução) nas dependências da Usina tanto no período de safra de cana-de-açúcar quanto no período de ausência. Nas vistorias, foi detectada a presença do surto da mosca-dos-estábulos, uma vez que apenas na vistoria técnica realizada no período de safra é que foi constatada a presença da mosca, sendo que, na vistoria técnica realizada fora do período de safra da cana-de-açúcar, não foi constatada a presença da mosca.
Na Ação, o Promotor de Justiça pede ainda a condenação da Nova América Agrícola Caarapó Ltda. e Raízen Caarapó S/A Açúcar e Álcool ao pagamento de indenização pelo dano moral coletivo ambiental no valor de R$ 500 mil a ser depositado no Fundo Estadual de Defesa e de Reparação de Interesses Difusos Lesados, criado pela Lei Estadual nº 1.721/96.
Registros fotográficos enviado por produtores que denunciam o surto de mosca
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