24/09/2018 08h12 – Atualizado em 24/09/2018 08h12
ARTIGO: Os generais de Bolsonaro não leem notícias
Por Natalia Viana, codiretora da Agência Pública
Uma reportagem de Luis Kawaguti, no UOL sobre o grupo de trabalho formado por generais da reserva para elaborar estratégias de governo para Jair Bolsonaro (PSL) revela o despreparo da turma do candidato que já afirmou que teria “um montão de ministro militar”. Comandado pelo general Hamilton Mourão, o grupo inclui o general Osvaldo Ferreira, ex-chefe do departamento de Engenharia do Exército, e o general Augusto Heleno, ex-comandante das tropas brasileiras no Haiti.
Como era de se esperar, os generais aposentados concordam na necessidade de ampliar a atuação das Forças Armadas na segurança pública, aventando até incluir o tema na formação dos soldados.
À frente das áreas de defesa e segurança pública do plano, Augusto Heleno diz querer usar sua experiência no Haiti para elaborar “estratégias de combate a facções criminosas”. É a mesma cantilena que serviu como base para as ocupações das favelas do Alemão e da Maré pré-Copa do Mundo, na fracassada política das UPPs.
E o general parece não estar a par dos parcos resultados da maior ação militar na segurança pública já realizada em tempos de democracia, a intervenção federal no Rio de Janeiro.
Sob comando do general Richard Nunes, os fluminenses viram o número de roubos de cargas diminuir no Estado – em agosto, a redução foi de 20% em relação ao 2017 – assim como os roubos de rua (16%) e de veículos (15%).
Mas, lessem as notícias com atenção, os generais saberiam que no mesmo período o indicador de letalidade violenta teve um aumento de 13% em relação a agosto do ano passado, com 552 vítimas. O número inclui latrocínios, lesão corporal seguida de morte, homicídios dolosos e homicídios praticados por policiais.
É nesse último item que a intervenção tem mostrado sua maior falência. Se alguém tinha a esperança de que os militares iriam retificar a PM fluminense, notoriamente violenta e corrupta, viu o avesso.
Em agosto, a PM bateu recorde histórico de homicídios decorrentes de intervenção policial. Foram pelo menos 175 pessoas mortas “em confronto”, o maior número no mesmo mês em 15 anos e um aumento de 150% em relação a 2017.
Os números parecem indicar que, desconhecedores do terreno das favelas e do tema de segurança pública em geral, os militares tem ficado a reboque da malfadada PMRJ, que se sente ainda mais livre para entrar em território das facções criminosas atirando em “suspeitos” – muitas vezes, moradores sem ligação com o tráfico.