30/06/2018 09h12 – Atualizado em 30/06/2018 09h12
ARTIGO: Os verdadeiros donos da bola
Por Marina Amaral, codiretora da Agência Pública
Não, o assunto não é a seleção brasileira, que nessa semana nos trouxe as primeiras alegrias. A coisa é bem mais triste e remete a tempos mais antigos que a liderança brasileira no futebol: estamos falando dos “coronéis”, essas figuras tão típicas entre nós e tão longevas no poder.
Eles hoje plantam soja – embora sua longa sombra também se estenda sobre os pastos e os canaviais. Falam em tecnologia enquanto exploram trabalho escravo e degradante, economizando em salários o que não poupam nas sementes com fungicida e nas pulverizações com agrotóxicos que agridem a saúde das pessoas e do meio ambiente. Para eles, o empobrecimento do futuro é progresso.
Também vale derrubar mata para plantar braquiária, invadir terras ancestrais de para criar gado e matar quem atrapalha – não raro aqueles a quem consideram “arcaicos”. Com licença do Estado, a depender da vitória de alguns candidatos às próximas eleições: Bolsonaro e Alckmin já prometeram liberar armas no campo. Do lado dos coronéis, é claro.
E não tem VAR que mude o jogo. O apito deles é soberano quando se trata de retirar proteções constitucionais e/ou liberar veneno – ignorando a ciência e a sociedade. Na pelada que rola no Congresso, vale tudo que têm patrocínio. É a alma do negócio, como explica um dos lobistas que atuam junto à tropa de choque ruralista.
Os coronéis terão maioria na Câmara para aprovar em plenário a “nova” Lei dos Agrotóxicos, originária de um projeto do rei da soja e ministro da Agricultura, Blairo Maggi. É uma questão de tempo. No governo Temer a bola e o apito estão com eles na Casa Civil, no Ministério da Justiça, da Agricultura, na Funai, no Incra e, sobretudo, no Congresso.