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quarta-feira, 4 de dezembro de 2024

Vaquejada é estratégia de conservação

11/01/2016 08h32 – Atualizado em 11/01/2016 08h32

A série Boas Práticas desta sexta-feira mostra como a antiga ´pega do boi´ vem se transformando em defesa da Caatinga

Por Marta Moraes – Edição: Alethea Muniz

A vaquejada de hoje é resultado da antiga “pega do boi”, prática revivida por vaqueiros do sertão, que ocorre dentro do mato fechado, no meio das árvores, por cima de pau e pedra. Funciona ainda como atrativo turístico e vem auxiliando na conservação da Caatinga, suas paisagens, biodiversidade, solos e serviços, pois as áreas que normalmente seriam desmatadas para plantar capim para o gado estão sendo preservadas, com suas características originais mantidas.

No meio da Caatinga, o perigo é grande, mas para o vaqueiro nordestino, quanto mais fechada a vegetação melhor. Cobertos de couro, para evitar os cortes dos espinhos, os vaqueiros do sertão vêm mantendo uma tradição cultural, respeitando os animais e o meio ambiente.

No passado, a corrida não se resumia à pratica de esporte rural. Nas fazendas de antigamente, o gado era criado solto na Caatinga no chamado regime de “pastos livres”. A cada temporada ou fim de estação, os fazendeiros organizavam o que eles chamavam de ‘pega de boi’, uma festa onde se reuniam todos os vaqueiros da região para pegar o gado que vivia na solta e que seria marcado a ferro e conduzido para áreas onde os pastos existissem em maior abundância.

Para Silvério Sales, do assentamento Jacaré Curituba (localizado no município de Canindé de São Francisco, em Sergipe), o vaqueiro nordestino é antes de tudo um protetor da Caatinga. “Quanto mais conservada, mais emocionante para ele”, afirma. Silvério lembra que a vaquejada nada mais é do uma representação do dia a dia do vaqueiro sertanejo. “A prática da pega do boi deixa a Caatinga conservada. O que é bom para o ambiente, para o gado e para o vaqueiro”.

CULTURA VIVA

Segundo o produtor Sílvio Leite, do mesmo local, promover a vaquejada no assentamento, no meio da Caatinga, é uma forma de manter a cultura nordestina viva. “Estamos passando nossa tradição aos jovens.Tomamos aqui no assentamento a decisão de deixar a reserva legal intacta, transformando-a num campo de vaquejada, conservando o meio ambiente e a cultura popular do nosso povo”, conta Sílvio.

O Departamento de Combate à Desertificação do Ministério do Meio Ambiente (DCD/MMA), Francisco Campello, diz que a vaquejada pode ser sim uma aliada na conservação do solo e das características originais da Caatinga. “A prática do criatório solto (pecuária extensiva), presente na Caatinga, demonstra a importância do manejo silvopastoril e o valor forrageiro desse bioma”, afirma.

Campello destaca que, no momento em que o Brasil se compromete a zerar o desmatamento clandestino, essa iniciativa vem se somar aos compromissos anunciados pela Presidência da República para o corte de emissões de gases de efeito estufa e aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).

PROJETO EM SERGIPE

Jacaré Curituba,Walmir Mota, Florestan Fernandes (nos municípios de Canindé de São Francisco e Poço Redondo, em Sergipe) e a comunidade Poço Preto, no município de Porto da Folha, integram as áreas de atuação a serem beneficiadas pelo projeto “Manejo de Uso Sustentável de Terras do Semiárido do Nordeste Brasileiro – Sergipe”.

Esse projeto será desenvolvido pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA), em cooperação com o PNUD, com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF). Terá uma ações focada no Alto Sertão Sergipano apontado como área núcleo do processo de desertificação no estado, envolvendo os municípios Porto da Folha, Gararu, Monte Alegre de Sergipe, Nossa Senhora da Glória e Nossa Senhora de Lourdes, além dos já citados Canindé de São Francisco e Poço Redondo (SE).

A proposta principal do projeto é fortalecer a estrutura de governança ambiental do manejo de terras, para combater os principais fatores da degradação de terras em Sergipe e no nordeste do Brasil. A iniciativa foi pensada para otimizar e coordenar os programas e políticas públicas existentes, visando o manejo sustentável da terra para reverter a degradação em Áreas Suscetíveis à Desertificação (ASD).

O projeto irá promover manejo do ecossistema integrado da vegetação da Caatinga nativa através da implementação de um conjunto de boas práticas que, por um lado, garantem ambientes sustentáveis para produção vegetal e animal, ao passo que, por outro lado, reduzem a degradação da terra. Tal fato permite a conservação da biodiversidade e a manutenção das funções do ecossistema, reduzindo as ameaças aos recursos naturais e promovendo a recuperação de áreas degradadas

Vaqueiro: protetor da vegetação nativa

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